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Abram alas para os reis

A afrocentricidade dá o tom do álbum audiovisual Black Is King, de Beyoncé. Lançamento mundial traz valores pan-africanos para o centro dos debates.

Por Eduarda Xavier, Keli Cristina e Maria Paula

Lançado no dia 31 de julho de 2020 e vindo de uma onda de múltiplos lançamentos de Beyoncé, o álbum visual Black is King ganhou vida, mesclando cinema com musicalidade. Gestado em corpos pretos, o audiovisual de Beyoncé traz consigo os valores pan-africanos para o centro dos debates mundiais. A retomada a África é trabalhada de múltiplas formas, resgatando a pluralidade de produção de conhecimentos, perceptível nas imagens do deserto onde habitam os Tamashek e Massais;, as savanas e a África Ocidental dos ewe, yorubas e fantes. As referências trabalhadas vão desde o Kemet antigo (Egito) às comunidades Ndebeles, do nascimento a jornada do herói Black em referência Zulu, desmistificando também o olhar colonial que limita o espaço material e imaterial africano em uma homogeneidade, um espaço de dor e miséria.

A respeito disso, a psicóloga especializada em psicologia africana, pan africanista e mulherista africana, Gieri Alves. “Eu acho que o álbum da Beyoncé traz para o mainstream, pro grande público, pra grande mídia dominante, várias questões que os panafricanistas, as pessoas da afrocentricidade estão desde há muito tempo tentando expandir pro conhecimento de todos, mas acaba ficando muitas vezes restrito à academia. A Beyoncé consegue furar essa bolha, e trazer através da arte, da música e das imagens o que muitas vezes fica restrito à livros e à teorias, restrito a um pequeno grupo de pessoas negras de olhar pra trás e vermos quem somos, não apenas o que fizeram com nós, e o que queremos ser, é muito revolucionário!”, analisa.


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Para Raiany Fernandes, produtora cultural e especializada em planejamento estratégico de impacto e integrante da rede Iyabá, a profundidade de Black is King vem também da organização estratégica durante sua produção: “Houve uma gama de diretores e diretoras criativas, tanto no design, criação, figurino, maquiagem. Por exemplo, tem a Hannah Beachler que é diretora de arte e também trabalhou no Lemonade, Pantera Negra, e ganhou Oscar com Pantera Negra, inclusive. Tem a Jenn, artista e diretora. Ela participou do clipe de APESH*T, e trabalha numa estética bem afrofuturista, que também é uma característica do Black is King, ela também é stylist da Beyoncé.”, descreve a produtora.

Bianka Jaciara (25), ativista do movimento negro Juventude Negra Política, assistiu o audiovisual e traz sua visão e o que BIK representou para ela na entrevista e fala também sobre esse rompimento sociocultural proporcionado pela obra de Beyoncé: “Raramente eu vejo representações que não são relacionadas a dor ou sofrimento quando trata-se de negritude, eu acho que faltavam pessoas ‘pra’ falar sobre negritude sem estar relacionado a dor. E a obra dela trouxe outros recortes, trouxe pertencimento, orgulho, e foi meio novo, sabe? Tipo, achar uma coisa boa e se ver nela, se sentir parte dela. Não se identificar unicamente com o que dói, isso serve principalmente para que as pessoas pretas observarem que o que nos unifica não é só dor e sofrimento, mas cultura, prosperidade e ancestralidade”, opina Bianka.


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A ancestralidade enquanto um princípio pan africanista e muito trabalhada [AL2] no álbum em diversos momentos como no ritual de nascimento de Black na presença dos ancestrais vestidos de branco diante do mar em referência Zulu. Sendo para os ewe, Hú (mar) onde habitam os ancestrais, trazendo para a narrativa a marcação da jornada de autoconhecimento do herói. Assim como no princípio Sankofa do povo Adinkra e Ashanti de se construir presente através do passado, dizendo a todo momento que “Sempre há tempo de voltar atrás e recuperar o que foi perdido”.

Black is king amplia as percepções simbólicas e identitárias dos que o assistem: “A Beyoncé deixou bem escuro, que o nosso passado é nosso futuro, que a nossa história é nosso futuro, que a gente precisa olhar pra trás pra buscar soluções e curas pra hoje, para podermos construir o futuro que a gente precisa e merece enquanto povo preto, nos colocando no centro, tirando os brancos do centro, recuperando nossa história, recuperando o que é nosso e eles tentaram esconder”, finaliza Gieri.

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