Longa-metragem baseado em obra de Clarice Lispector será esse ano
- Redação do Matraca
- 15 de set. de 2020
- 3 min de leitura
“A paixão segundo G.H.” chega aos cinemas em novembro de 2020, comemorando os cem anos que a autora completaria.
Ana Luisa Lisboa, Larissa Miranda e Vitória Vilaverde
Em comemoração ao ano do centenário da jornalista e escritora Clarice Lispector, um longa-metragem baseado em seu livro homônimo “A paixão segundo G.H.” publicado em 1964, irá estrear nos cinemas de todo o país. O longa-metragem independente, estrelado por Maria Fernanda Cândido e dirigido por Luís Fernando Carvalho, representou um grande e prazeroso trabalho para o diretor de Lavoura Arcaica (2001) por ser uma transposição complexa de uma das obras mais emblemáticas de Lispector.
Com lançamento previsto para novembro deste ano, a história gira em torno de uma escultora de Copacabana, que logo após demitir sua empregada decide fazer uma limpeza no quarto de serviço, presumindo que o encontrará sujo e cheio de tralhas. Lá, ela mata uma barata e acaba mergulhando em uma reflexão existencial, contemplando a perda de sua identidade que a faz refletir sobre questões sociais, patriarcais e religiosas de seus preconceitos, que aprisionam o feminino até os dias de hoje.

A espera para o longa por parte dos admiradores de Clarice é grande. “Minhas expectativas giram em torno de que o filme consiga retratar as discussões existenciais que essa obra contém. Já no que se refere a ser fiel às narrativas não lineares de Clarice, eu acredito que o filme conseguirá contemplar esse formato, pois a narrativa não linear já é algo muito forte no cinema”, projeta Brenda Ribeiro, estudante de Jornalismo e admiradora da escritora e suas obras memoráveis.
Essa não será a única adaptação das obras de Clarice para o cinema e a literatura, já que, o longa “Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres”, de Marcela Lordy, também está em produção sem previsão de lançamento. O longa será uma adaptação à obra homônima de Clarice publicada em 1969. Para comemorar também, a editora Rocco, que detém os direitos de publicação de seus livros, já começou a colocar no mercado a obra completa da escritora em 18 edições.
As primeiras três reedições circulam desde o início de dezembro, com os romances “Perto do Coração Selvagem” (1943), “O Lustre (1946)” e “A Cidade Sitiada (1949)”. As capas são inéditas e expõem um aspecto pouco conhecido da vida da autora: sua dedicação às artes visuais. Todas as imagens foram pintadas por ela, que produziu 22 telas em meados dos anos 1970.
Cem anos de Clarice Lispector
Há quase 100 anos, mais precisamente em 10 de dezembro de 1920, nascia em Tchetchelnik, na Ucrânia a menina Haia Lispector, que, ao se mudar para o Brasil, em 1926, junto a sua família de origem - fugindo do antissemitismo disseminado na Rússia durante a Guerra Civil Russa - teve seu nome alterado para Clarice Lispector.
Ainda muito jovem, Clarice aprendeu a ler e logo começou a escrever pequenos contos. Em sua juventude, transitou por residências em Maceió e Recife, e após ficar órfã de mãe, mudou-se aos 12 anos para o Rio de Janeiro. Em terras cariocas, formou-se em Direito 1941 e deu início à suas grandes obras com Perto do Coração Selvagem, publicado em 1944. A obra que retrata uma visão interiorizada do mundo da adolescência teve calorosa acolhida da crítica, recebendo o Prêmio Graça Aranha.
Daí em diante, mesmo transitando por diversos países do exterior em viagens diplomáticas junto a seu marido Maury Gurgel Valente, Clarice continuou escrevendo e publicando cada vez obras enriquecedoras como “O Lustre” (1946), “A Cidade Sitiada” (1949), dentre muitas outras obras. Após se divorciar do marido em 1959, Clarice retorna ao Brasil e se insere no meio jornalístico assumindo as colunas "Correio Feminino" e "Só Para Mulheres". Nesse mesmo ano, lança “Laços de Família”, livro de contos que recebeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. Falecida em 1977, um dia antes de seu aniversário de 57 anos, Clarice escreveu nesse mesmo ano sua última obra “Hora da Estrela”, na qual conta a história de Macabea, uma moça do interior em busca de sobreviver na cidade grande.
Clarice não se restringia ao campo literário pois além de se relacionar com diferentes grupos literários, também dialogou com artistas de outras áreas. Reconhecida como uma das mais importantes escritoras do século XX, as diversas facetas de Clarice inspiraram gerações, sejam aquelas que tiveram o prazer de conhecê-la ou ainda as novas gerações. “O centenário de Clarice Lispector representa, para mim, o nascimento de uma liberdade prosaica. A Clarice se insere na 3ª fase do movimento modernista no Brasil, que ficou conhecido também como ‘geração de 45’. Nessa fase, houve muitas experimentações estéticas e temáticas na literatura e, especialmente a Clarice, faz parte de uma vertente literária mais intimista e introspectiva, e é por isso que em suas produções literárias há um forte traço desse ‘voltar-se para dentro’, algo muito característico nas obras dela”, analisa Brenda Ribeiro.

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