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Sotaque mineiro na produção brasileira de cinema de animação

Saiba mais sobre os filmes do gênero feitos em Minas Gerais e os projetos em desenvolvimento na capital e no interior do estado

Texto: Paula Alana, João Pedro Corrêa e Rosimeire Corrêa

Edição: Ariane Lemos

Minas Gerais é reconhecida nacionalmente por vários motivos, sua a farta culinária, seu contato direto com a natureza, seu sotaque peculiar, dentre muitos outros aspectos. Entretanto, Minas se destaca também no cenário artístico com escritores, músicos, artistas visuais e atores de projeções nacional e internacional. Na criação audiovisual, esse destaque se repete e, nesse caso, a produção vem acompanhada pela atenção dada ao aspecto da formação profissional. Belo Horizonte, por exemplo, foi a primeira capital brasileira a ter um curso superior em Cinema de Animação, criado em 2009. Além disso, o estado reúne uma série de profissionais do audiovisual com carreira sólida, destacando-se na produção de longas-metragens nos mais variados gêneros, incluindo a animação.

O pioneiro das animações mineiras foi Helvécio Ratton, diretor, produtor e roteirista nascido em Divinópolis, em 1949. Seu filme de estreia, Dança dos Bonecos (1986), foi premiado em festivais no Brasil e no mundo, sendo reconhecido na Itália, na Alemanha e em Portugal. Dando continuidade à sua trajetória, seu segundo longa foi o Menino Maluquinho (1995), inspirado no personagem criado pelo ilustrador Ziraldo. Muito ainda se fala sobre esse personagem conhecido por seu senso de humor e aventuras.

Outro diretor que se destaca na história da animação mineira é Sávio Leite, mestre em Artes Visuais pela UFMG, diretor de curtas-metragens, professor de cinema de animação e coordenador de workshops de vídeo e imagem. Leite colabora em vários projetos cinematográficos e é o fundador do maior festival mineiro do gênero, a Mostra Udigrudi Mundial de Animação – MUMIA, que completa 17 anos em 2020. Ao longo de suas edições, o MUMIA já exibiu mais de 170 filmes de 20 países, na capital e no interior de Minas.

Nova geração

Atualmente em Minas Gerais, estão sendo criadas dois longas-metragens do gênero de animação. A reportagem do Matraca Blog conversou com diretores e produtores dessas produções para contar um pouquinho sobre o que tem sido feitos nos estúdios de animação em Minas Gerais.

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Trecho do filme Placa Mãe. (Foto: Divulgação)

Placa Mãe (Cia Produções Espaciais, Divinópolis/MG)

A Cia Produções Espaciais é responsável pela produção do primeiro longa-metragem de animação feito no interior de Minas Gerais. Para fazer do sonho possível, foram contratadas 35 pessoas e outras 115 estão ligadas indiretamente ao projeto. A equipe é formada por profissionais especializados, sendo eles: Igor Bastos, fundador e CEO- Bacharel de Animação e Artes Digitais na UFMG. Na direção, Elisa Guimarães, graduada em Design Gráfico pela UFG e cinema pela UFMG e produtor executivo, Christopher Costa. Placa Mãe é o primeiro longa-metragem da Cia e conta a história de uma robô que tem cidadania. Como cidadã ela ganha o direito de adotar duas crianças. Entretanto, houve um mal-entendido durante a adoção do garoto David, que foge com medo de sua irmã Lina perder o sonhado lar. Enquanto David lida com os perigos da cidade, Nadi tenta encontrá-lo.

Os realizadores de Placa Mãe contam que a maior dificuldade é encontrar mão de obra qualificada. “Em Divinópolis, infelizmente, não temos uma mão de obra qualificada e é difícil encontrar bons profissionais para conseguir atender as demandas que uma produção precisa. Toda mão de obra foi procurada em vários estados do Brasil, entretanto, a maioria dos colaboradores é de Belo Horizonte”, explica o produtor Christopher Costa. Além disso, é possível perceber também que muitas pessoas não têm consciência sobre o impacto gerado ao fazer um filme, portanto, muitas das vezes essa dedicação não é tão valorizada. Segundo os produtores, a gestão pública também não facilita para os amantes de animação. No cinema, o órgão regulador de todo cinema brasileiro é a Ancine. Porém, muita coisa mudou desde 2018 as verbas destinadas exclusivamente para conteúdos audiovisuais foram reduzidas, dificultando o desenvolvimento do cinema local.

Todo o processo da animação de Placa Mãe é feito no computador. O programa utilizado se chama Toon Boom Harmony. A animação inicial, que dá formas e padroniza o desenho, é feita em 2D; já na criação dos cenários é feita em 3D, aperfeiçoando cada detalhe. E por fim, os frames, ou seja, cada movimento do personagem, são finalizados na parte da sombra que as colocam em todos os detalhes que necessitam do trabalho. O filme teve um investimento de R$ 3 milhões, porém, se engana quem pensa que a verba é suficiente. Os diretores precisam se reinventar para conseguir entregar o filme de forma efetiva. No total foram três anos de produção e pré-produção e a estimativa é que o filme fique pronto em 2021 e seja exportado para 52 países.

Chef Jack, o cozinheiro aventureiro (Immagini Animation Studios, Belo Horizonte/MG)

O autor é Artur Henrique e em sua história, Chef Jack e Leonard tem como objetivo cruzar as Ilhas Culinárias para completar as provas da “Convergência de Sabores”, a maior competição gastronômica do mundo, e tentar vencer seus concorrentes. Para produzir a longa, contaram com o apoio da Immagini Animation Studios, Pixel Produções, Ciclus Produções, Fundo Setorial Ancine, CODEMGE e da Lei Estadual Cultura.

Quem lê a sinopse de um filme nem imagina como foi possível chegar até esse momento. A história do “Chef Jack” surgiu ainda na universidade. Com várias possibilidades, Arthur e sua equipe investiram tudo nesse sonho que surgiu a uma década. “O projeto inicialmente era uma série, mas a partir da abertura de um edital, eu pensei numa história do projeto que se passaria em 70 minutos. Agora, a ideia do Chef Jack em si, foi há 10 anos, em 2010, bem no início da faculdade, quando estava fazendo vários brainstorms para novas ideias de história e cheguei no conceito: ‘imagina se existisse cozinheiros meio Indiana Jones?’. A partir dessa pergunta eu desenvolvi todo o universo, personagens etc.”, conta Artur Henrique.

Para ele, a principal dificuldade para concluir o longa é o investimento no projeto. “Acho que a parte de financiamento é sempre a maior dificuldade. Por mais sólido que sua ideia esteja, o projeto desenvolvido, tendo vários feedbacks positivos de produtores executivos do mercado e tal, na hora de conseguir a verba para produzir o filme/série, é sempre onde o projeto trava”, avalia. Além disso, segundo o diretor, nos últimos anos, houve uma crescente de valorização muito significativa para o cinema brasileiro. Entretanto, na atual gestão do Governo Federal, muitas políticas de investimento no audiovisual, então construídas, foram drasticamente alteradas, “ficando de lado não apenas o audiovisual, mas a cultura e entretenimento como um todo”, pontua.

Mas a esperança de investimento não precisa está diretamente relacionada apenas à valorização nacional. Ainda que fundamental, há outras formas de reconhecimento. Arthur se baseia nos exemplos brasileiros que conseguiram superar as dificuldades e conseguiram reconhecimento internacional. “Em termos de mercado, conseguimos perceber cada vez mais animações brasileiras relevantes no mundo todo como Irmão do Jorel, Luna etc. Então temos uma valorização pelo mercado, mas não pelo país”, explica.

A expectativa é que Chef Jack, o cozinheiro aventureiro estreie no circuito nacional em setembro de 2021. A equipe já garantiu a exibição do filme em cinemas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Saiba mais!

O cinema de animação existe desde os primórdios da sétima arte. O dia 28 de outubro é considerado o Dia Internacional da Animação. A data foi escolhida em homenagem ao filme Pauvre Pierrot, do francês Émile Reynaud (1844-1918), exibido pela primeira vez nessa data, em 1982. O curta-metragem foi produzido com base em 500 imagens pintadas individualmente e narra a clássica história do triângulo amoroso entre o Pierrot, Colombina e Arlequim. Outro registro histórico do cinema de animação é o filme Wille do Barco a Vapor (1928), do estadunidense Walt Disney (1901-1966). A produção animada e sonorizada marcou a estreia do personagem Mickey Mouse, um sucesso à época. Hoje, as produções dos estúdios Walt Disney são uma referência no cinema de animação. Do desenho no papel e imagens pintadas à dimensionalidade, o cinema de animação reúne diversas técnicas, como o 2D, o 3D e o stop motion.

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