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Matriarcas da literatura

Nos 300 anos de Minas, a tradição literária do estado vai além do universo masculino;

nas últimas décadas, a visibilidade da escrita feminina produzida no estado tem ganhado força e projeção

Texto: Brenda Ribeiro, Cristiane Menezes e Olga Constância

Edição: Ariane Lemos

No século XVIII, as paisagens mineiras e o bucólico ideário presente nos pés das montanhas dão origem ao primeiro cenário da literatura mineira. Com o passar dos séculos, sempre houve a consagração da forte presença masculina e dedicamos aos autores homens um saudosismo inegável e conservador, típico até nas calçadas mineiras. De Bernardo Guimarães às páginas literárias de Carlos Drummond de Andrade, escoramos os grandes feitos da nossa literatura. Mas, em que lugar colocamos as matriarcas? Como são lembradas Adélia Prado, Carolina de Jesus, Conceição Evaristo, Daniela Arbex, Ana Maria Gonçalves, Cidinha da Silva, entre tantas outras protagonistas da literatura mineira? As mulheres, as mineiras, as mátrias que, com suas escritas, trazem o protagonismo feminino nas disputas de gênero, o eco da “espécie ainda envergonhada”, como diria Adélia Prado.

No tricentenário de Minas Gerais, celebramos as escritas da nossa rica e diversa literatura. Mas não a qualquer escrita, mas aquela que traz no útero as raízes de tantas minas, as minas de Luzia – primeira habitante do Estado que conhecemos – à Xica da Silva, à Dona Beja, às Diamantinas e às Marianas. Aos trezentos anos de mineiridades, celebramos as mulheres que protagonizaram com poesia, consciência literária, autobiografia e que, com prosas infindáveis trouxeram a poética que subiu Bahia e desceu Floresta.

Na história, há um forte traço de androcentrismo e, também, um apagamento insistente do papel da mulher na sociedade, vinculando-nos estreitamente ao sentido sensível, do lar e materno. Na literatura não seria diferente, desde às escritas filosóficas aos tempos contemporâneos, nos deparamos com um patriarcado estrutural nas relações dentro e fora dos livros. Ainda hoje, nos confrontamos com uma forte reprodução e reafirmação de valores arcaicos e, também, a desigualdade de gênero que nos atravessa diariamente e restringe debates, narrativas e possibilidades.

Nascida na capital mineira, Mariana Pio (30) sempre teve na escrita um sentido de vazão.Escrever foi um ponto forte para mim. Eu era a aluna boa de redação. Até me tornei uma estudante mediana porque me garantia na redação em concursos como vestibular e outras provas que prestei quando ainda achava que caberia no mundo jurídico. A escrita criativa, no entanto, começou a tomar forma no comecinho da faculdade de Direito, em 2009, quando fiz um blog com uma amiga do curso. Eu havia me apaixonado pela primeira vez na vida, o que ainda trouxe à tona questões sobre minha orientação sexual, e isso provocou um furacão dentro de mim, o que teve vazão por meio da escrita”, lembra.

Autora de Ombro Hereges, publicado pela editora Urutau (2018), Pio traz uma escrita intimista, profunda e poética, abordando temas como o corpo feminino, a nudez, o ventre, a ancestralidade materna, as relações do feminino com a natureza, a espiritualidade através de matrizes não tradicionais em uma sociedade extremamente cristã e conservadora como a que vivemos, sobretudo, em Minas Gerais. Encarar essa escrita e conquistar um lugar ao sol na cena literária mineira nunca foi tarefa fácil. “Eu sou uma mulher cis, branca, bissexual, filha e neta de mães solos, crescida no terreiro e na Bahia. Na minha vida íntima, enquanto crescia, não era nítida a concretude da narrativa colonialista, hegemônica. O que eu conheci é isso que está no Ombros hereges. O livro joga luz e poesia sobre o que foi se sedimentando e solidificando sobre as descobertas de que grande parte do que eu conhecia e que me formava era problemático diante do pensamento hegemônico. Não foi escrito com a intenção única de provocar esses questionamentos, mas é certo que eu sabia que isso seria uma consequência, vi a importância disso e acolhi”, reflete.

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A escritora mineira Mariana Pio aborda em seus textos aspectos naturais, espirituais e sociais do universo feminino. Foto: arquivo pessoal
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Capa do livro Ombros Hereges, publicado em 2018. Foto: divulgação

Pio reflete sobre a perspectiva da mulher e como a construção dessa visibilidade ainda precisa de apoio, impulso, força. “Talvez seja mais uma questão de sermos ou não reconhecidas localmente do que de realmente não existirmos ou sermos escassas ou sem protagonismo. Nós estamos aí e nós nos reconhecemos. Já o público, isso me deixa bem alerta, mas também angustiada. Hoje, a gente escreve em Itabirito, é editada em Bragança Paulista, lança em BH, envia livro pra Curitiba e João Pessoa no mesmo dia. É certo que seria maravilhoso ser lida na nossa terra, mas não é isso que determina o quanto de impulso tenho ou não. E quanto mais querem nos taxar, nos ignorar, nos perseguir, limitar nosso acesso às pessoas, mais escrever se torna, em vários níveis, necessário. Especialmente para nós, que somos silenciadas primeiro”, analisa.

Prevalência na academia

E as bibliografias femininas, onde estão? Durante o percurso acadêmico, em particular no curso de Letras, muitos são os autores abordados. Júlia Penido (21), aluna de letras na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), relata que há uma tendência em se abordar escritores canônicos. “Na licenciatura em português, especificamente, o foco é a literatura brasileira e, um pouco, a literatura portuguesa. Em relação aos autores estudados obrigatoriamente, pensando, então, nas disciplinas obrigatórias, há um foco em autores canônicos, certamente”, conta.

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Júlia Penido, aluna de letras da UFMG, defende mais diversidade feminina na bibliografia do curso. Foto: arquivo pessoal

Questionada sobre qual exposição é mais vista na faculdade, de autoras ou autores, Júlia é certeira: “Autores, com certeza! O curso ainda é bem engessado no cânone, de maneira geral, então é difícil apresentar tantas autoras, e eu falo isso de maneira crítica, acredito na necessidade de repensar o cânone e o valor de outras literaturas. Muitos professores da casa são mais velhos e estão quase se aposentando, então, vejo pouco esforço, por parte deles, em mudar a bibliografia do curso. Porém, percebo que isso tem mudado aos poucos: alguns dos professores buscam aumentar a diversidade dos autores, inserindo mulheres na bibliografia”, descreve.

Com a certeza de que a literatura mineira é muito contemplativa, na universidade ainda há uma determinada defasagem de apresentação de conteúdo pelo programa curricular do curso de Letras, quando se trata das escritoras regionais. Contudo, há uma mudança relativa acontecendo com o passar do tempo e essas mulheres começam a ganhar mais espaço. “A literatura mineira é muito rica e, por isso, é trabalhada no curso, mas quase nunca trabalhamos autores ‘alternativos’ e, mais raramente ainda, mulheres. Porém, em disciplinas optativas, grupos de leitura e apoios pedagógicos – principalmente os projetos criados por alunos – há um interesse enorme em ler mulheres e em abordar interseccionalidades, como ‘mulheres negras’, ‘mulheres lgbt’, ‘mulheres indígenas’, e, também, ‘mulheres mineiras’. Enfim, o que eu quero dizer é que percebo a germinação de uma semente de mudança”, afirma a estudante.

Apesar disso, a falta dessa visibilidade feminina acarreta algumas perdas na formação dos alunos. “Vejo uma perda dupla em relação à sua falta de representação na universidade. Em primeiro lugar, fica mais difícil ter um olhar ‘mais acadêmico’ sobre esses textos – o que não altera sua importância, mas nossa perspectiva sobre eles, no sentido de ser muito mais difícil inseri-los em nossos trabalhos acadêmicos e, no caso da licenciatura, nas salas de aula também. Assim, entramos num enorme ciclo de desamparo teórico sobre as autoras que dificulta o manejo. O segundo ponto que destaco é que, com essa falta de representação acadêmica, essas autoras caem, muitas vezes, ou no desconhecimento ou numa ‘diminuição de valor’. Para mim, essa é uma perda enorme, já que essas autoras têm muito a nos dizer subjetivamente e, também, academicamente, pois suas obras são excelentes objetos de análise”, conclui Penido.

A visão de Mariana, escritora, e de Júlia, estudante de Letras, convergem e suscitam alguns questionamentos. Afinal, qual o lugar da literatura produzida por autoras mineiras? Há reconhecimento suficiente? Desde a Inconfidência Mineira, no século XVIII, com Tomás Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manoel da Costa, até o Movimento Modernista e suas fases, no século XX, com as contribuição irretocáveis de Carlos Drummond de Andrade e João Guimarães Rosa sucedidos por dezenas de nomes não menos importantes da literatura contemporânea, a trajetória literária do estado assume uma vestimenta masculina e, assim, é lembrada. Na tentativa de reparar esse equívoco, a reportagem do Matraca faz a sua parte e destaca autoras mineiras de projeção nacional. Nesta lista, configuram os nomes de Adélia Prado, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e Daniela Arbex. Além disso, traz uma entrevista exclusiva com Cidinha da Silva. Boa leitura!

Adélia Luzia Prado de Freitas

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Foto/reprodução: Instagram Adélia Prado

Escritora de Divinópolis (MG), nasceu em 13 de dezembro de 1935 e começou a compor seus primeiros versos em 1950 após a morte da mãe. Casada e mãe de cinco filhos, é professora por formação e atuou na área durante 24 anos até a abandonar e dedicar-se totalmente a escrita em 1979. Além disso, Adélia também é poetisa, filósofa e contista brasileira ligada ao Modernismo. Suas obras são marcadas por retratarem a rotina com determinado encanto, com um aspecto mais divertido e também apresentam traços de sua fé cristã que é bem forte na vida da autora.

No âmbito literário, a sua chegada foi de vasta importância pois, ela apresentou o reconhecimento do feminino nas letras e da mulher como ser pensante, uma vez que Adélia desenvolvia inúmeras funções: era mãe, esposa, dona de casa, além dos papéis intelectuais. Sua primeira e principal obra é o livro Bagagem (1975), seguida por uma extensa lista de produções, principalmente as poesias e prosas como O homem da mão seca (1994), Terra de Santa Cruz (1981), O Pelicano (1987), A Faca no Peito (1988) e Filandras (2001), além das citadas anteriormente. Em 1978, Adélia Prado recebeu o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro com o trabalho Coração Disparado.

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir. [...]

Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos

-- dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado

Carolina Maria de Jesus

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Foto/reprodução: Facebook dedicado a Carolina Maria de Jesus

Escritora nascida em 14 de março de 1914, em uma comunidade rural na cidade de Sacramento (MG), era filha de pais analfabetos e frequentou a escola apenas até aprender a ler e escrever. Sua mãe veio a falecer em 1937 e Carolina se viu coagida a mudar para São Paulo em busca de melhores condições de vida.


Na cidade, trabalhou primeiro como empregada doméstica, na casa de um médico cardiologista bem conhecido à época, porém ficou grávida e teve que procurar outro lugar para morar. Assim, instalou-se em uma periferia na zona norte, construiu sua própria casa com materiais que encontrava pela rua e trabalhou como catadora de papel. No coleta ade reciclados sempre havia cadernos que ela pegava para fazer uma espécie de diário, em que relatava o seu dia a dia na favela do Canindé. A partir dessas escritas, surgiu o seu livro mais conhecido, que se tornaria um best-seller no país e no mundo, Quarto de despejo (1960), publicado com o auxílio de Audálio Dantas, jornalista e amigo da autora.

Livro de grande sucesso, que resultou no ápice da carreira da escritora e que a rendeu um bom retorno permitindo que Carolina saísse da zona periférica e se mudasse para Santana, na zona norte de São Paulo. Contudo, sua ascensão durou pouco e logo se tornou esquecida. Gastou todo o seu dinheiro lutando para publicar outros livros que não tiveram a mesma repercussão do primeiro. Foi uma mulher conhecida por ser reflexiva, crítica, poética; por apresentar uma narrativa marcante e ilustrativa que provocava no leitor construções imaginárias e por discorrer sobre desigualdades sociais e problemas políticos. Em 1977, aos 62 anos, Carolina Maria de Jesus veio a falecer por insuficiência respiratória em Parelheiros, zona sul de São Paulo, deixando três filhos e quatro obras publicadas. Depois de seu falecimento, teve seis obras publicadas, totalizando dez livros assinados pela escritora.


Conceição Evaristo

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Foto/Reprodução: Instagram da escritora Conceição Evaristo

Belo Horizonte, 29 de novembro de 1946: nascia em uma comunidade, no alto da Avenida Afonso Pena, uma das maiores escritoras brasileiras, Maria da Conceição Evaristo de Brito. Romancista, contista, poeta e ensaísta, Conceição Evaristo, como ficou conhecida, foi a primeira de sua família a ingressar em uma universidade. De origem humilde, após ser aprovada em um concurso de magistério, em 1973, migrou-se para o Rio de Janeiro para cursar a graduação em Letras, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Cursou mestrado em Literatura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio) e doutorado em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Conceição Evaristo conquistou seu primeiro prêmio de Literatura em 1958, ao finalizar o primário e ter sua redação, cujo título era “Por que me orgulho de ser brasileira”, premiada em um concurso. A redação, escrita por Conceição Evaristo, aos 17 anos, passou a integrar o movimento que fomenta reflexões sobre a realidade brasileira, a Juventude Operária Católica (JOC). Ao longo de sua carreira como escritora, Conceição Evaristo já foi condecorada por diversos prêmios. Um deles foi o Prêmio Faz Diferença do ano de 2016, do Jornal O Globo, na categoria prosa. Em 2018, ela ganhou o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra e, em 2019, foi contemplada pelo mais tradicional prêmio literário do Brasil, o Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria de personalidade literária do ano.

A literatura de Conceição Evaristo passeia entre o íntimo e o universal, com narrativas não-lineares que constroem reflexões sobre a política de exclusão, sobre as vivências de negros e negras e sobre a marginalização das mulheres, fruto de uma sociedade estruturalmente patriarcal. A contista ainda escreve sobre as desigualdades sociais como parte de sua vivência pessoal e como resultado de sua observação do contexto social brasileiro. Entre suas principais obras, destacam-se: os romances Ponciá Vicêncio (2003), Becos da Memória (2006) e Canção para ninar menino grande (2018); os contos Insubmissas lágrimas de mulheres (2011) e Olhos D’água (2014); e o livro Poemas de recordação e outros movimentos (2008).

Vozes-Mulheres

A voz de minha bisavó ecoou criança nos porões do navio. ecoou lamentos de uma infância perdida.

A voz de minha avó ecoou obediência aos brancos-donos de tudo.

A voz de minha mãe ecoou baixinho revolta no fundo das cozinhas alheias debaixo das trouxas roupagens sujas dos brancos pelo caminho empoeirado rumo à favela

A minha voz ainda ecoa versos perplexos com rimas de sangue e fome.

A voz de minha filha recolhe todas as nossas vozes recolhe em si as vozes mudas caladas engasgadas nas gargantas.

A voz de minha filha recolhe em si a fala e o ato. O ontem – o hoje – o agora. Na voz de minha filha se fará ouvir a ressonância O eco da vida-liberdade.

Conceição Evaristo (Da obra: Poemas de recordação e outros movimentos, 2008)

Daniela Arbex

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Foto/Reprodução: Instagram da jornalista e escritora, Daniela Arbex.

Nascida em 19 de abril de 1973, Daniela Arbex é um dos principais nomes do jornalismo investigativo no Brasil. Mineira de Juiz de Fora (MG), Daniela Arbex cursou Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), onde se formou, em 1995. Iniciou sua carreira como repórter do jornal Tribuna de Minas e ganhou reconhecimento como repórter investigativa, atuando por mais de duas décadas.

Daniela Arbex ficou conhecida na cena literária com a publicação do livro-reportagem Holocausto Brasileiro (2013), uma obra que remonta uma das maiores barbáries da história do Brasil, vivenciada por pacientes do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, que recebia pessoas consideradas fora dos padrões sociais para serem internadas. No Colônia, como o lugar ficou conhecido, as pessoas admitidas eram maltratadas, torturadas e mortas com o consentimento do Estado, dos médicos, de funcionários e da sociedade.

Após sua estreia na literatura, a jornalista e escritora foi contemplada pelo prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), na categoria literária, como o melhor livro do ano. No ano seguinte, ocupou, também com a obra Holocausto Brasileiro, o segundo lugar do Prêmio Jabuti, na categoria livro-reportagem. Em 2015, publicou Cova 312, obra vencedora do 58º Prêmio Jabuti, também na categoria livro-reportagem.

Em sua mais recente obra, Todo dia a mesma noite (2018), Daniela Arbex escreve sobre o incêndio que ocorreu na Boate Kiss, em 2013, e que levou a pequena cidade gaúcha de Santa Maria (RS) aos noticiários ao redor do mundo com 242 vítimas fatais. Na obra, a autora homenageia as vítimas e constrói um memorial contra o esquecimento da noite em que ocorreu a tragédia.

Exclusivo: Cidinha da Silva

Nascida na capital mineira, Cidinha da Silva é uma referência em literatura afro-brasileira e literatura afro-diáspora. Escritora e editora da Kuanza Produções, a autora perpassa com a sua escrita pelos gêneros de crônicas, contos, ensaios, dramaturgia e infanto-juvenil, totalizando 17 obras publicadas. Dentre as principais obras da autora, destacam-se: o livro de contos Um Exu em Nova York (2018), o ensaio em que teve participação como coautora Explosão Feminista, sendo finalista do Prêmio Jabuti (2019) e premiada pelo Prêmio Rio Literatura 4ª edição, além do volume de crônicas Exuzilhar (2018).

Graduada em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atualmente doutoranda em Difusão do Conhecimento na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Cidinha aborda em suas obras temas como racismo, desigualdades raciais, questões de gênero e sexualidade. Em entrevista exclusiva para o Matraca Blog, a escritora analisa as dificuldades enfrentadas por mulheres na literatura, as lógicas machistas, racistas e LGBTfóbicas reproduzidas por editoras no atual contexto e, afirma, ainda, que não escreve para preencher lacunas, e sim para criar mundos por meio da escrita.

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Cidinha da Silva, historiadora e escritora mineira. Foto/reprodução: Instagram Cidinha da Silva

Matraca Blog: Na história literária, há um forte traço de apagamento de escritoras mulheres e suas publicações. Um retrato disso é que, ao falar sobre literatura mineira, por exemplo, imediatamente algumas pessoas citam Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e outros nomes. Como você avalia o atual cenário, sobretudo no contexto de Minas Gerais? Acredita que as mulheres estão ocupando mais espaços no meio literário?

Cidinha da Silva: Não sei dizer se estamos ocupando mais espaços, acho que estamos sempre sob a coação de forças que tentam nos obrigar a reconhecer "avanços". De um modo geral, as coisas mudam, a roda gira, as águas que passam debaixo de uma ponte nunca são as mesmas. No diapasão de movimento da vida é natural que as mulheres apareçam um pouco mais depois de todas as conquistas do movimento feminista no mundo. O que sei dizer é que continuamos batalhando diariamente para fazer valer a nossa palavra, para produzir nossos livros, para sermos respeitas e valoradas como escritoras.

Matraca Blog: Muito se fala sobre a marginalidade das mulheres no mercado editorial, uma vez que parte da nossa literatura é advinda, a priori, de uma perspectiva masculina, branca, heteronormativa e europeia. Você acredita que as editoras, em certa medida, ainda reforçam e reproduzem a desigualdade de gênero na literatura?

Cidinha da Silva: Não o fazem em "certa medida", reproduzem cabalmente. Por que seria diferente? O mercado editorial está subordinado às lógicas racistas, machistas, heteronormativas, LGBTfóbicas como todas as demais instâncias sociopolíticas, culturais, empresariais etc.

Matraca Blog: Em que momento você percebeu a falta do protagonismo de mulheres na história da literatura mineira? Isto é, qual circunstância e/ou situação levou você a questionar essa estrutura de poder e a movimentou para escrever?

Cidinha da Silva: Primeiro de tudo, eu não me movimentei a escrever para preencher qualquer tipo de lacuna, ainda menos na literatura mineira. Eu não escrevo e nunca escrevi para Minas Gerais, Minas está em mim, me formou e isso é tudo, a partir dessa compreensão eu quero o mundo e quero criar mundos, é por isso que escrevo. Segundo, as mulheres não têm protagonismo na literatura brasileira e mundial.

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