Pandemia desafia artistas independentes
- Redação do Matraca
- 29 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de set. de 2020
Com eventos cancelados, músicos têm se reinventado em tempos de isolamento social
Ana Luisa Lisboa, Larissa Miranda e Vitória Vilaverde
Desde à chegada do Covid-19 ao Brasil, em fevereiro, os setores de entretenimento e cultura foram uns dos primeiros a sofrer os efeitos do isolamento social, gerada pela pandemia. Eventos em todo o país foram cancelados como medida preventiva para evitar a propagação da Covid-19 devido à aglomeração de pessoas. De acordo com a Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (ABRAPE), entre março e agosto, cerca de 51% dos eventos programados foram adiados, cancelados ou ainda estão em situação incerta.
Com a recomendação de distanciamento social e o fechamento de bares e casas noturnas, profissionais da indústria cultural têm sentido os impactos causados pelas restrições impostas pela pandemia. É o caso do cantor sertanejo, Léo Lisboa (49), que está na profissão há 25 anos. Com uma média de 15 apresentações por mês em eventos públicos e privados, o artista teve sua agenda de shows cancelada.
“Infelizmente, nós cantores, que vivemos da música, fomos os primeiros a parar e seremos os últimos a voltar a desempenhar nossas atividades normalmente. Tem ainda a questão financeira. Grande parte da minha renda mensal vem da música e, hoje, o que está me ajudando é o meu outro emprego.”, conta o músico que também atua como pintor. Apesar dos impactos negativos, Léo compreende a importância de seguir as medidas de segurança. “Se é para o bem de todos está sendo válido”, avalia.

Impactos Culturais
O distrito de Marilândia, próximo à cidade de Divinópolis, também teve a rotina afetada pela Covid-19. Com uma população idosa e uma tradição cultural muito marcante, vários eventos culturais foram adiados.
A banda Lira Musical Nossa Senhora do Desterro que completa 115 anos neste ano, organizou uma agenda com vários shows para celebrar a data. Todas as apresentações assim como os ensaios foram canceladas. “As atividades estão todas paradas e sem previsão de retorno. Muitas pessoas da banda possuem contato com alguém que trabalha em Divinópolis, cidade que tem muitos casos. Os ensaios são um risco de transmissão, pois não é possível usar máscara”, explica o secretário da banda, João Pedro Cardoso (20).
A banda não tem financiamento público e conta com arrecadação em eventos, barraquinhas e venda de rifas para se manter e garantir a manutenção dos instrumentos. “Sorte que tínhamos uma reserva. A gente sempre se atenta para deixar alguma reserva em caso de emergência”, finaliza João Pedro.

Soluções alternativas
Há ainda aqueles artistas que recorreram a alternativas para se reinventar em tempos de reclusão social, aproveitando-se da tendência das lives. Os shows contendo apenas a banda e a produção no local e transmitidos ao vivo pela internet ou em canais de tv começaram a fazer sucesso com artistas nacionais como Gusttavo Lima e Marília Mendonça e, rapidamente, ganharam a adesão de artistas independentes.
É caso da banda itaunense Hakuna, do gênero pop-rock. Com 25 anos de história, é especializada em eventos corporativos e receptivos como casamentos e formaturas. Antes da pandemia, realizava uma média de 50 shows por ano, com um público de cerca de 500 pessoas por apresentação. Com o cancelamento dos eventos, a banda decidiu aderir às lives e teve bons resultado.
“Abriu-se outro nicho de mercado com as lives. Em nossa primeira live, atingimos cerca de duzentas mil pessoas.”, comemora o vocalista Marcinho Hakuna. Apesar do sucesso, o músico ressalta que é o mercado difícil e que não irá durar muito. “O mercado televisivo é muito disputado e exige um investimento alto para alcançar engajamento. O alcance está diminuindo gradativamente, em nossa primeira live arrecadamos mais de cinquenta mil reais, quinhentas cestas básicas, além de materiais de limpeza. Na segunda live essa rentabilidade caiu para 10%.”, aponta.

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