A imprensa alternativa em tempos de opressão
- Redação do Matraca
- 24 de mar. de 2021
- 3 min de leitura
Larissa Miranda
A comunicação se faz há séculos instrumento de extrema importância para a sociedade brasileira. A imprensa por sua vez, mais precisamente a imprensa alternativa, surgiu como um meio de dar voz a aqueles que não são ouvidos e desmascarar verdades ocultadas pela imprensa tradicional, que trabalha de acordo com seus interesses ideológicos, financeiros, políticos e organizacionais, visando principalmente o lucro.
Deste modo, percebe-se que a situação democrática dos meios de comunicação é concretamente uma necessidade urgente para nosso povo, pois as notícias e informes tem de estar afinadas com os interesses populares para que todos tenham vez e voz, o que não acontece na atual ‘ordem democrática’ da nação.
Atualmente, temos uma comunicação motivada exclusivamente pelos grupos de poder que dominam nosso meio comunicativo, no qual só são publicadas as notícias que interessam a esses grupos. Diante a esse quadro, podemos afirmar claramente que a censura já existe, porém não é uma censura de regime, mas uma censura de dinheiro e poder.
Censura durante a Ditadura Militar
Mas, quem pensa que a censura midiática hoje é grande, provavelmente não viveu nos chamados ‘anos de chumbo’ durante a Ditadura Militar (1964-1980). A opressão e censura sofrida pelas mídias alternativas nos dias atuais, mal se comparam à censura sofrida na época, quando não só palavras, mas, simples gestos e manifestações de arte, também eram consideradas afrontas e traições ao governo.
O regime militar, ficou conhecido, em sentido comunicacional, pela época em que se lia pelas entrelinhas; um jornal publicava receitas culinárias em seus editoriais, para avisar que estava sendo censurado, enquanto outros veículos buscavam formas diferentes para fugir da repressão. E isso não acontecia somente com a imprensa. O teatro, o cinema, a literatura também penavam para exprimir suas ideias.
Na época, todo e qualquer ato de resistência era vigiado e oprimido pelo governo, no entanto essa opressão só serviu para tornar a imprensa alternativa mais forte e determinada a criarem meios para expressarem suas opiniões e exprimir atos de resistência.
Já no 1º de abril de 1964, dia oficial do golpe, aconteceram as primeiras manifestações de resistência. Diversos deputados e organizações de estudantes se posicionaram a favor da legalidade do governo de João Goulart. Em maio do mesmo ano, publicações que alertavam sobre os perigos da ditadura tomavam bancas de revistas e alguns artistas já organizavam shows musicais e peças de protesto.
Apesar de a maioria esmagadora dos meios de comunicação oficiais ter apoiado a ditadura, a época foi de grande efervescência para a imprensa alternativa - ou ‘os nanicos’ como também eram conhecidos - que começou a circular para barrar a censura e informar a população sobre a realidade do golpe. Jornalistas de esquerda que não queriam trabalhar para os grandes jornais comerciais se organizaram para fundar pequenas publicações. Surgiram jornais feministas, de partidos, sindicatos, de estudantes, regionais, sociais, clandestinos, humorísticos, entre outros.
O Pasquim
Um dos mais famosos veículos alternativos da época foi O Pasquim. Nascido em pelo clima efervescente da ditadura militar em 1969, o jornal imediatamente se tornou um fenômeno da imprensa alternativa daquele período e chegou a vender 200 mil exemplares em meados de 1970.
Concebido de início pelos jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral e pelo cartunista Jaguar, o jornal logo ficou famoso pela crítica irreverente e bem-humorada. Contribuíram para esse sucesso muita gente famosa que aderiu ao projeto. Millôr Fernandes, Henfil, Paulo Francis, Ruy Castro, Ziraldo foram apenas alguns entre tantos colaboradores que tornaram o semanário uma publicação reverenciada no cenário nacional.
O Pasquim se dedicava ao escracho total. Anárquico, ousado e brilhante, passou a ser um parâmetro para um novo jornalismo e se transformou em símbolo de resistência ao regime militar. Entretanto, mesmo sofrendo todo tipo de repressão, enfrentando dificuldades financeiras e inclusive perdendo espaço para novos jornais que surgiam, o Pasquim sobreviveu até o início da década de 1990.
Em resumo, liberdade de imprensa sempre significou, em última instância, a liberdade da escolha e da divulgação das informações que possam nos situar no mundo. Longe de ser uma conquista das democracias e pseudodemocracias vigentes, sua manutenção deve ser incondicionalmente a primeira pauta e o norte para o bom jornalismo.
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