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Humanização do vilão – a militância digital na luta narrativa por liberdade dos corpos gordos

Matheus Antônio Vieira


A viralização das dietas mirabolantes, a propagação de conteúdo falso e o discurso que veículos de mídia se utilizam para determinar os padrões estéticos dominantes e a nova onda dos filtros visuais que padronificam os corpos nas redes sociais, são a nova moda da era digital. Recentemente, no caso da cantora Adele, que em 2020 apareceu mais magra nas redes sociais, fazendo redes de notícia começarem comentar e ansiar pelo considerado “milagroso” método, tendo em vista a aparência anterior da cantora.


Dos tabloides de internet aos conglomerados de mídia, daqueles que também noticiaram e apoiam o tipo de dieta maluca e a formam a briga contra os corpos naturais, como a coluna Quem, do grupo Globo, reforçam a repulsa aos corpos não padronizados. Fazendo isso através da não representatividade, humorizarão dos corpos e a criação de narrativas contrárias. Na construção do arquétipo do vilão – o corpo gordo. Na mídia tradicional, a novela Saramandaia – com a personagem Dona Redonda, em um claro exemplo disso.


“Eu” sou o verdadeiro vilão?

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Imagem 1. Rede Globo Reprodução. Imagem 2 Cantora Adele no Instagram.

As mesmas redes sociais que ainda são utilizadas para perpetuar estilos de vida e padrões estéticos inalcançáveis, e levado mais adolescentes à mesa cirúrgica todos os anos, o movimento contra a gordofobia não se estrutura exatamente como outros movimentos sociais tradicionais. Com hashtags, postagens, comentários virais, a briga pela narrativa do corpo livre se tornou acirrada, já que permitiu não apenas que o grupo oprimido, a possibilidade de comunicar, mas de fazer com que outros oprimidos tivessem consciência da opressão que estavam vivendo. A luta narrativa contra a gordofobia se acirrou com a descentralização da comunicação possibilitada por redes sociais. Não apenas isso, mas as redes sociais foram a plataforma capaz dar força para um movimento que era ainda pequeno.


A luta narrativa contra a gordofobia se acirrou com a descentralização da comunicação possibilitada por redes sociais.


O cyber movimento alavancou o ativismo gordo, principalmente no Brasil. Em entrevista ao programa Como Sera? apresentado por Sandra Annenberg, a militante Alexandra Gurgel – fundadora do @movimentocorpolivro, afirma que o movimento brasileiro, diferente da onda Body Positive, que surgiu nos Estados Unidos. Para ela, a luta é sobre não apenas aceitar aquilo que é considerado imperfeito e se amar, mas a busca pela equidade corporal, em que os corpos são tratados de maneira igual, com acessos iguais contrária as narrativas que consideram o corpo gordo apenas como um mal doente.

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Fotografia: Ana Carolina Conesa

A movimentação de apropriação da comunicação através das redes sociais, utilizando-as como plataforma de mídia alternativa, para possibilitar novas narrativas quanto ao corpo gordo, continuam modulando e forçando as discussões a serem feitos. Na mesma dose, as mesmas redes sociais e mídias tradicionais tem mantido continua pressão social através de realidades inalcançáveis de dietas falsas, representatividades vazias ou inexistentes, e efeitos digitais que alteram o visual corporal dentro das próprias plataformas, além dos mecanismos de censura dos algoritmos dessas plataformas – como abordamos essa discussão na última semana.

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Reprodução: https://recordtv.r7.com/

A narrativa principal, a homogênea, torna o corpo como vilão, que deve submeter ao procedimento estético ou a dieta, disfarçado no argumento da saúde, forçado através da não acessibilidade. Assim fomentam um padrão, e uma indústria, de interesses indiretos e diretos. Indiretos daqueles que surgem da ideologia, dentro do comportamento da cultura, e direto, aquele do patrocinador dessas mídias do discurso homogêneo. Programas de saúde na televisão constantemente abordam o tópico da saúde dos corpos, sem considerar o nível sociocultural.


Na narrativa construída pelo movimento contra a gordofobia, podemos observar como o discurso sobre o tamanho e liberdade são construídos a partir da experiencia do eu, para o social. A narrativa politizadora do corpo, busca educar e livrar, para gerar também através dos próprios mecanismos de internet, novos influenciadores do movimento. Este é o processo da humanização. Conheça um pouco mais sobre essa perspectiva da liberdade em nosso recente trabalho .

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Foto: Instagram de Alexandra Gurgel

Usando das hashtags #corpogordo #gordofobia #bodypositivity #corpogordo #corpolivre, vídeos viralizantes que buscam compartilhar o formato natural dos corpos e experiências, o movimento contra a gordofobia busca transformar a narrativas criadas utilizando da internet como veículo principal da propagação. Fazem isso, primeiro tomando o corpo como objeto digno de respeito em suas narrativas, ao aclamar o amor próprio, e depois como objeto político, ao militar por acessibilidade e respeito. Outros movimentos sociais apropriam-se também das redes sociais como mídia alternativa, e neste caso, o movimento dos corpos livres brasileiro ganhou notoriedade ao descentralizar o discurso com as redes sociais.



Ana Carolina Conesa

Beatriz Albernaz

Fernanda Elisa

Matheus Antônio

 
 
 

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