O povo como protagonista, de fato
- Redação do Matraca
- 24 de mar. de 2021
- 4 min de leitura
Maria Paula Araújo
Esse texto é fruto das reflexões e acúmulos obtidos com a produção de 3 textos publicados, que intitulamos como “A mídia popular em 3 tempos”, nessas produções tivemos o esforço de entender e expor a historicidade e conceitos sobre o que é mídia alternativa popular no Brasil e de qual maneira ela se operou e se manifestou no país.
A comunicação alternativa popular assim como o povo é múltipla e se expressa de diferentes maneiras em sua existência, isso ocorre porque é impossível padronizar as expressões de um povo, sobretudo do povo brasileiro, dotado de singularidades e diversidades.
Essa pluralidade se mostra tanto na existência propriamente dita, quanto no método, pesquisadoras e pesquisadores da temática expõe que os veículos podem ser orais, visuais ou audiovisuais, online ou impressos, comunitárias, étnicas… enfim, sem dúvidas existe uma gama de maneiras de se expressar enquanto mídia popular, mas dentre essas possibilidades, o que categoriza a comunicação popular?
Uso do título dessa matéria para responder: O povo como protagonista, ou ao menos, como pauta. A comunicação popular emerge do povo, dialoga com ele e sobre ele. Parte das classes populares se volta a ela, e além disso, está intrinsecamente ligada aos movimentos sociais, particularmente, arrisco dizer que a comunicação popular é também fruto deles.
O que se entende enquanto comunicação popular tende a ser mais democrático (na sua organização e em suas pautas) do que a mídia tradicional estabelece, não seria diferente, uma vez que a comunicação popular se propõe a contribuir para a construção da cidadania na sociedade, de modo que dialogue com as comunidades, periferias, garanta dignidade e progresso pro povo.
Para que a comunicação popular se comprometa com o que pretende alguns pontos contra-hegemônicas são necessários, entre eles: que seja construída em cima da perspectiva de superar a esfera mercadológica colocada em cima da comunicação (principalmente do jornalismo), ofereça conhecimento de mundo com compromisso e veracidade e além disso, que seja o ferramenta de colocar o projeto popular na sociedade brasileira.
Os movimentos sociais populares precisam ter voz e vez!
A comunicação alternativa popular é a voz que os movimentos sociais precisam e estão mais interligados do que imaginamos, a ponto de não ser possível dissociar os dois.
A comunicação popular é uma das ferramentas mais potentes da classe trabalhadora de incidir no contexto social e os movimentos sociais demandam da comunicação popular para funcionar, isso ocorre porque a comunicação popular por si só já se desenvolve num panorama de luta social, e nesse campo, se imbrica com os movimentos sociais.
O ponto central entre os movimentos sociais e a comunicação (os dois no campo popular) é o fator de relevar os contextos sociais, econômicos, políticos e históricos em sua construção e metodologia de atuação.
Mas, não se resume a isso, tanto a comunicação popular quanto os movimentos sociais populares possuem conteúdos que majoritariamente criticam o projeto capitalista, neoliberal e autoritário em voga no país (mais um fator que as aproxima) e além da crítica, são combativos contra esse sistema. São instrumentos substanciais para expor as demandas dos setores mais baixos em oposição à estrutura de poder e seus comportamentos.
Em resumo: ambos demonstram a importância de disputar um projeto de sociedade brasileira contra-hegemônico e disputar esse projeto por meio da comunicação, das mídias, das ideias, dos jornais é estratégico e essencial pois dão para os movimentos sociais popular subsídios para que possam fazer essa disputa social e aproximam o povo desse projeto. Ademais, esses espaços são responsáveis por formar de opinião pública e consequentemente reguladores democráticos.
Brasil de Fato e a narrativa popular
“Se quiserem reconhecer o Brasil que vivemos, este Brasil de Fato, os trabalhadores têm de produzir seu próprio jornal” foi o que foi dito em 2003, na inauguração do jornal. Isso nos leva a entender o panorama da narrativa popular, feito do povo, pra o povo.
A ideia de mostrar um Brasil que é escondido pela grande mídia, de uma maneira crítica e abertamente posicionado a esquerda, numa visão popular, foi o que originou o portal Brasil de Fato, uma mídia alternativa e popular, que se propõe a ser plural, representar o Brasil verdadeiramente, sem os dogmas e estereótipos que a burguesia do nosso país por séculos tentou classificar o que era Brasil. Talvez venha daí o “de fato” em seu nome, da veracidade e realidade que é retratada.
O BdF surgiu na onda da “reconstrução da esquerda brasileira” logo após o presidente Lula assumir seu primeiro governo, a partir do entendimento de que os movimentos sociais, assim como a esquerda brasileira, pudessem vivenciar um momento de expansão. Desse modo, nasceu um portal de mídia popular para ser base para que esse crescimento ocorresse acima de valores humanistas e socialistas.
As transformações, lutas e movimentos sociais estão fortemente inseridos na narrativa que o BdF traz, além de fomentar e contribuir nos debates sobre política, sociedade, economia e classe, essa linha editorial, por si só, já participa da disputa hegemônica com veículos da grande imprensa empresarial.
Além disso, também reforçam por meio do jornalismo a necessidade de construir um projeto popular para o Brasil e demonstrar uma visão popular do Brasil e do mundo (desse modo, se auto descrevem).
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