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O protagonismo de jovens e adolescentes no mercado estético

Número de cirurgias plásticas em jovens brasileiros aumenta em 141% nos últimos 10 anos

Eduarda Xavier, Keli Cristina, Larissa Miranda


Há décadas o crescimento de cirurgias plásticas vem sendo discutido por profissionais de saúde e organizações de Direitos Humanos. O que muitos não sabem é que no topo desse ranking estão jovens e adolescentes com idade entre 13 e 18 anos, que vem arriscando cada vez mais a vida em mesas de cirurgia para realizar procedimentos estéticos, muitas vezes invasivos e perigosos em busca de um padrão de beleza idealizado pelas mídias.

Segundo o censo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC), esse público específico tem se tornado protagonista pois, nos últimos 10 anos houve um aumento de 141% no número de procedimentos estéticos entre brasileiros nessa faixa etária. Além disso, segundo o censo de 2018, foram realizadas mais de 151 mil cirurgias estéticas ou reparadoras em pacientes com até 18 anos no Brasil.

Esses números alarmantes não só colocam o Brasil como líder de um ranking mundial, como também refletem uma busca patológica por tais ideais imaginários, uma vez que, como também demonstrado pelo censo, houve um aumento considerável de busca por procedimentos estéticos em detrimento dos reparativos (ou seja, que visam corrigir deformidades). Os dados preocupam não apenas pela quantidade, mas também por se referirem a um público cada vez mais jovem, que realizam os mais diversos tipos de intervenções.

Dentre as principais intervenções realizadas hoje no Brasil por adolescentes se destacam o aumento/diminuição dos seios, correção de ginecomastia (aumento do tecido mamário masculino), lipoaspiração, rinoplastia e correção das orelhas. E enquanto sobem os números de cirurgias plásticas, aumentam também os jovens com transtornos de ansiedade e depressão. Levantam-se, então, diversos questionamentos sobre o que exatamente constrói socialmente esses comportamentos ligados à autoimagem corporal.

Autoimagem é a representação mental do próprio corpo, o modo como o indivíduo se vê, não só em frente ao espelho, mas também como ele pensa que as pessoas o veêm. Desse modo, essa identificação está muito ligada a relações sociais e influências externas. Esse processo, lento e gradativo, se intensifica ainda mais na adolescência, período em que o ser humano busca por reconhecimento, interna e externamente. É justamente nesse período também que os jovens se tornam mais propensos a influências, não só de pessoas próximas, mas principalmente das mídias, que trazem exigências corporais irreais e ilusórias.

Nesse meio, as manifestações publicitárias de produtos e intervenções estéticas vendem um faz-de-conta cujas consequências se tornam invisíveis diante ao benefício de ter uma imagem perfeita e semelhante à aquela que lhe é apresentada. Nesse aspecto, os gigantes da publicidade, bem como influencers e youtubers, são peritos na criação e distorção do padrão adequado à sociedade e dos procedimentos estéticos, mediocrizando os riscos e os reais propósitos da intervenção.


Em entrevista à revista Época, a psicanalista Mônica Donetto Guedes afirma: “Mexer no corpo sempre é algo complexo, psicologicamente falando, ainda mais em adolescentes. Muitos distúrbios só vão aparecer no fim da adolescência, e mexer no corpo antes disso pode gerar estruturas traumáticas ainda mais complexas.”

Luísa Santos, 17 anos, conta sobre a primeira vez em que pensou em passar por uma cirurgia para modificar seu corpo-tipo. “Eu queria fazer lipo e silicone no peito quando tinha 7/9 anos de idade. Eu via as famosas fazendo”, comenta. Quando questionada sobre como surgiu esse desejo, Luísa afirma que ouvia sua vó e tia “falando que se tivessem dinheiro também fariam”. Além de ressaltar que tais modificações a ajudariam a se tornar uma mulher “gostosa”, bonita e digna de admiração, apesar dos riscos.

Gabriela Luz, 15 anos, assim como Luísa também afirma sentir vontade de modificar o corpo com procedimentos. Mais especificamente fala sobre mamoplastia redutora (cirurgia para diminuição do tamanho das mamas) e “remover as estrias”. Conta que não sentiu pressões externas, mas que os procedimentos a ajudariam na aceitação de seu próprio corpo como algo belo.

Ambas as entrevistadas responderam que passariam pelos procedimentos descritos se tivessem condições financeiras.

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As redes sociais potencializam a busca por corpos ideais, roupas da moda e um estilo de vida quase utópico. | Foto: Bigstock

(Foto: Joeyy Lee/ Unsplah) (Foto: Joeyy Lee/ Unsplah)

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Figuras públicas antes e depois de procedimentos estéticos (cirúrgicos e/ou não cirúrgicos). Na primeira linha, da esquerda para direita, Bianca Andrade (Boca Rosa), DJ Alok e Flayslane. Na segunda linha, da esquerda para direita, Luísa Sonza, Lucas Lucco e Flávia Pavanelli (Montagem: Carolina Miôtto).

 
 
 

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