top of page

Pandemia causa evasão escolar no ensino médio e diminui o número de participantes do Enem

Eduarda Xavier, Keli Cristina e Larissa Miranda

ree
Foto/Reprodução: Duda Xavier

Há exatamente 1 ano, o vírus da Covid-19 chegou ao país, mudando bruscamente a vida de todos os brasileiros. Hoje, para além da situação alarmante em relação a leitos hospitalares, o alto nível de mortalidade da doença, o desemprego que afetou milhares de brasileiros e a fome; a pandemia do Coronavírus tem deixado um abismo gigantesco também na educação de crianças e jovens em idade escolar.


Desde março de 2020, as instituições de ensino de todo o país tiveram que fechar as portas aos alunos e prosseguir o ensino de maneira remota, totalmente diferente daquilo com que todos estavam habituados. O método, nunca utilizado antes em escolas no Brasil durante um período tão longo, vem causando defasagem na Educação de alunos de todo o país. O problema tem preocupado os alunos que se encontram a um passo do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). A avaliação é para muitos jovens a grande chance de ingressar em uma universidade pública ou conseguir boas bolsas em uma universidade privada.


Segundo a diretora da Escola Estadual Dona Judith Gonçalves, Cláudia Aparecida Bernardes, de 53 anos, a escola recebeu repasses financeiros a mais para auxiliar nas questões do Regime de Atividades Não Presenciais (REANP). -A escola tem seguido à risca o Plano de Estudo Tutorado (PETs), no qual os alunos estudam online e com materiais impressos. Além disso, a diretora salienta que os estudantes recebem suporte dos professores através dos grupos de sala no WhatsApp e na plataforma Google Classroom.


Cláudia reconhece que a situação ainda é adversa.No entanto, afirma que os resultados do modelo de ensino dependem em boa parte do aluno. “Acredito que quando o estudante quer de verdade, ele estuda, seja online ou presencial. Agora, quando não quer, não adiantam todos os aparatos tecnológicos, atividades interessantes, nada”, comenta a diretora. Ela ainda ressaltou que a Secretaria de Educação de Minas Gerais (SEE) e a Superintendência Regional de Ensino prepararam diversas atividades em parcerias com instituições públicas e privadas para auxiliar o estudante no ENEM. “Ou seja, com tudo que apurei no ano passado, creio que os estudantes do Ensino Médio foram bem assistidos”, avalia a Cláudia.

ree
Foto/Reprodução: Getty Images

No entanto, a realidade descrita por Cláudia não é a mesma em todas as instituições.O ano de 2020 foi marcado pela maior abstenção da história do ENEM . Segundo dados do Ministério da Educação foram 5.523.029 inscritos, porém apenas 51,5% compareceram na aplicação das provas. A ausência no exame que é para muitos jovens a porta de entrada para a universidades levantou questionamentos não só em relação à prova, mas principalmente sobre as desigualdades e dificuldades que enfrentam estudantes, professores e responsáveis no ensino remoto na pandemia.


A professora Dra. Kellen Cristina, 34, docente na rede pública desde 2016, relata que nas turmas em que lecionou, na rede estadual de Minas Gerais houve uma queda significativa na adesão ao ENEM. “Muitos desistiram de realizar o Enem, seja porque não se sentiam preparados ou por não se sentirem confortáveis em ir realizar a prova no dia. Outros relataram que não conseguiram entrar nas escolas e tiveram que reagendar a prova.”, revela.


Ao ser questionada acerca do acesso às tecnologias necessárias ao ensino remoto, ela relata: "na escola estadual onde leciono, um grande número de alunos não conseguia acessar a internet, nem para preencher os formulários do Google, que gasta poucos dados. Para ajudá-los, disponibilizamos o pet impresso”. Já no Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET), local onde ela também leciona, foram disponibilizados os meios para que os alunos pudessem acessar a internet, além do empréstimo de equipamentos.Nem todos tiveram acesso ao ensino remoto on-line, mas tiveram acesso às atividades produzidas, pois tentamos chegar a todos, na medida do possível”.


Com pesar, a professora descreve uma realidade que ultrapassa a situação de seus alunos em Divinópolis e preocupa educadores, pais e estudantes: os altos índices de evasão. “Com a pandemia, as desigualdades mostraram sua pior face. Muitos alunos tentaram conciliar o trabalho com o ensino remoto, mas não conseguiram. Houve uma queda brusca nas participações on-line e, consequentemente, aumentou a desistência.” Esse é o caso de dois adolescentes que pararam os estudos após o início da pandemia: Moisés Ferreira de Sena e Pedro Arthur Rodrigues, de 17 anos.


Ambos os adolescentes deixaram suas instituições de ensino no ensino médio. Segundo Moisés, a pandemia contribuiu para a decisão: "tive que escolher entre trabalhar ou estudar, e a pandemia teve uma boa participação nisso. Eu acredito que com isso tudo acontecendo vai atrasar muita coisa no meu futuro, mas pretendo voltar e terminar o mais rápido possível.” Conta Moisés que era aluno de uma escola da rede pública na cidade de Esmeraldas." Já Pedro, que estava no 1º ano do ensino médio na escola Dona Antônia Valadares em Divinópolis,optou por terminar os estudos quando a pandemia acabar em uma instituição de ensino para jovens e adultos, como o EJA, para garantir o diploma de maneira mais rápida.


Diante aos fatos, a professora Dra. Kellen Cristina comenta os maiores desafios do momento: “se manter firme e esperançosa perante os alunos, que chegam destruídos em relação ao futuro. A escola é um importante espaço de socialidade, de criação de laços, de quebra de muros e construção de pontes. A pandemia aumentou os muros, trouxe o medo e consequentemente atacou os estudantes em cheio”. De acordo com a docente, é necessário motivar os alunos. “O maior desafio para nós professores, é conseguir fazer com que eles tenham novamente perspectiva, sonho e que enxerguem nos estudos, uma possibilidade de mudança. Pra mim, manter a fé foi e segue sendo o mais difícil”, pondera Kellen.


Quanto à volta das aulas presenciais que começou a ocorrer nos últimos meses, de maneira gradual em algumas cidades do país, a diretora Cláudia Aparecida Bernardes acredita que isso ocorrerá apenas após outubro deste ano. “Se o retorno acontecer antes disso, nossa escola não está preparada para atender a todas as normas.”, finaliza fazendo referência às instruções sanitárias do Minas Consciente.

 
 
 

Comentários


Seja um inscrito do Matraca e não perca nada do nosso blog

Agora você é um assinante do Matraca!

© 2020 by GoJorn.

bottom of page