Para além da objetividade jornalística
- Redação do Matraca
- 19 de jan. de 2021
- 2 min de leitura
O repórter como ator da transformação social
Ana Clara, Eduarda Xavier, Keli Cristina e Maria Paula
A abordagem jornalística de profundidade em pautas de Direitos Humanos demanda do profissional ir além da descrição dos fatos, exigindo mais sensibilidade para que os envolvidos não percam sua humanidade no processo. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), os Direitos Humanos consistem em garantias universais que protegem quaisquer indivíduos e grupos contra ações que são contrárias à dignidade humana. Mas em meio a cenários de constante ataque à humananidade, questiona-se também qual o papel e o posicionamento dos jornalistas na manutenção ou rompimento de ações que ferem estes valores.
A equipe do Matraca entrevistou a jornalista Luiza Sansão, repórter da Ponte Jornalismo de 2015 a 2017 e colunista do site Outras Palavras. Segundo Luíza, a relação entre jornalista e fonte nesta temática se diferencia do jornalismo de profundidade feito em outras áreas. “Pode-se fazer Jornalismo de profundidade em qualquer outra editoria. No meu caso, isso ocorreu porque fui me especializando na cobertura dos Direitos Humanos. Mas você pode fazer um regime de profundidade em diversos campos”, avalia. Entretanto, complementa também que a abordagem de Direitos Humanos é uma escolha que depende da atuação do profissional e demanda maior comprometimento do jornalista com a fonte. “Quando eu falo, por exemplo, do envolvimento nas histórias, você tende a ter um tipo de aproximação maior com a fonte do que habitual. A gente tem uma relação mais humana mesmo entre as pessoas, porque estamos falando de coisas muito difíceis”, acrescenta.
A jornalista, que trata em seu campo de trabalho questões voltadas para violência de Estado, relata um pouco da sua experiência e de outras abordagens jornalísticas que circulam sobre o tema: “quando você vai trabalhar com prisão, com familiares de vítimas de violência de Estado, existem diversos tipos de pessoas, de repórteres, que abordam de formas diferentes suas fontes/personagens e as questões envolvidas. Estamos falando de pessoas. O repórter, antes de tudo, é gente.” Logo, assim como existem abordagens comprometidas com a Justiça Social, também há falta de sensibilidade no jornalismo.
Há cerca de 5 anos, Luiza acompanha o caso do carioca Rafael Braga, preso injustamente em 2013. "Tenho uma relação muito forte com ele, com a família dele, porque você passa esse tempo todo cobrindo uma história, você não consegue ficar alheia aos fatos difíceis que é a vida dessa família.” A jornalista destaca a importância em se construir um discurso humanizado ao relatar casos delicados como de Rafael: “então eu acho que isso se reflete na reportagem no momento de você colocar a história no papel. Você tem que ter alguma maneira de colocar aquilo de modo que o seu leitor ou leitora também se sensibilize e perceba sua responsabilidade diante daquilo. Ou seja, uma responsabilidade que é de toda a sociedade, quando os Direitos Humanos dessa parcela são violados”, finaliza.
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